
Natural de Natal, Rio Grande do Norte, Alice Oliveira de Andrade é a mais nova professora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOM-UFS). Alice já é Professora adjunta do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e agora se torna docente permanente do PPGCOM. Alice Andrade tem uma trajetória acadêmica marcada pelo compromisso com uma comunicação crítica, antirracista e decolonial.
Doutora e mestra em Estudos da Mídia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde também se graduou em Jornalismo, Alice atua em pesquisas que articulam mídia, direitos humanos, raça, gênero e narrativas visuais e sonoras. Sua produção transita por temas como jornalismo antirracista, estudos da imagem, comunicação e contra-hegemonia, sempre com foco na construção de sentidos que rompam com lógicas coloniais e excludentes. Ela integra grupos como JORNAU, GENI, DESCOM e VISU, e já foi reconhecida nacionalmente por suas contribuições com prêmios como o José Marques de Melo (2019) e o Roberto Benjamin (2017).
Alice cresceu em um ambiente marcado pelo cuidado e pela escuta. Durante a infância, teve muito estímulo para sonhar. Então, como era uma criança curiosa e observadora, se encantou pelas palavras aos quatro anos e pensou em se tornar escritora. Aos 14, ganhou de presente do pai uma câmera digital e se apaixonou pela fotografia. Descobriu no jornalismo uma forma de unir imagem e palavra e, mais tarde, entendeu também seu papel transformador.A docência chegou como uma surpresa, mas logo se transformou em paixão.
Atualmente, na UFS, ela vive o desafio de construir uma nova história como professora da graduação e, agora, como integrante do corpo docente do PPGCOM. “O espaço acadêmico historicamente não foi pensado para pessoas negras. Cresci com poucas referências de professoras negras e, por isso, não me sentia possível nesse lugar. Isso mudou quando conheci mulheres como Carmen Spínola, Fernanda Carreira e Denise Carvalho, que me abriram caminhos. Hoje, me sinto chamada a fazer o mesmo por outras meninas negras”, afirma.

A primeira doutora da família
Alice é a primeira doutora da família. Sua mãe, que sonhava com o doutorado e não pôde concluí-lo por conta da maternidade, é uma das maiores inspirações de sua vida. Sua trajetória até a universidade foi guiada por afeto, responsabilidade e paixão pelo conhecimento. Alice vai compor a linha 2: Comunicação, Cultura e Política, que está diretamente ligada à sua trajetória pessoal e acadêmica e à forma como ela vê, nas perspectivas críticas e plurais, uma chave para compreender os fenômenos comunicacionais e suas relações de poder.
“Eu acho que isso tem tudo a ver com a minha trajetória, porque me permite pensar as relações de poder nesses fenômenos comunicacionais a partir de perspectivas críticas e plurais. Eu me interesso profundamente pelas apropriações sociais das tecnologias, pelas epistemologias negras, pelas especialidades da comunicação. A minha pesquisa é atravessada pelas questões étnico-raciais, pelo jornalismo antirracista, pelos processos de aquilombamento. Então é nesse lugar que eu encontro potência política, afetiva e acadêmica também. Eu acho que é uma linha que se afina muito com os meus estudos dos últimos anos.”
Entre os projetos que mais marcaram sua trajetória estão a tese de doutorado, “Aquilombamento virtual midiático: uma proposta teórico-metodológica para o estudo das mídias negras”, fundamentada na ideia de aquilombamento; os primeiros estágios da docência ao lado da professora Socorro Veloso; e o projeto de extensão Mulheres Racializadas, onde mergulhou em narrativas e teorias de autoras negras como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Conceição Evaristo. “Esses três eixos me transformaram profundamente”, afirma a pesquisadora.
Diante das palavras mesmo quando não está trabalhando
Fora da universidade, Alice vive um momento de redescoberta. Recém-chegada a Aracaju, tem construído vínculos, afetos e novas rotinas. "Hoje moro longe da minha família, mas estou adorando criar essa nova relação com a cidade", conta. Entre seus hobbies, destaca a literatura. "Com um bom livro, a gente nunca está sozinho", salienta. Também se dedica ao estudo dos cafés, com todo o simbolismo de encontro, afeto e memória. "O café sempre teve uma importância simbólica muito grande na minha vida. Representa os encontros com amigos, as conversas longas com minha família… carrega muita memória, muito afeto. Quem sabe um dia, além de professora, eu não abro o meu próprio café?", brinca.
Entre suas maiores inspirações artísticas, destaca Conceição Evaristo e Milton Nascimento. “A escrevivência da Conceição me atravessa, me ensina, me inspira. É denúncia, sonho, travessia”. Alice também se emociona ao lembrar de Beatriz Nascimento, historiadora sergipana que orientou espiritualmente sua tese de doutorado. “Minha principal referência foi a Beatriz Nascimento. Escrevi a minha tese com a foto impressa da Beatriz Nascimento, e sempre pedia a ela a bênção, enquanto minha ancestral negra e referência acadêmica, para poder escrever um bom trabalho, uma tese que contribuísse com o campo”, revela.

O que a mantém esperançosa, mesmo diante dos desafios da educação e da ciência no Brasil, é a esperança crítica. “A universidade ainda é um espaço de disputa, resistência e reinvenção." Inspirada por Paulo Freire, acredita em uma ciência ética, que partilha saberes, dialoga com os territórios e se compromete com a justiça social. “A presença crescente de estudantes negros, indígenas e periféricos no ensino superior, muitas vezes graças às políticas afirmativas, mostra que é possível transformar esse espaço historicamente excludente”, afirma. “É nesse horizonte que deposito minha aposta: uma ciência conectada com os territórios, comprometida com a diversidade epistêmica e com a justiça social. Esse compromisso sustenta minha esperança e me impede de desistir.”

Tatiane Macena - Comissão de comunicação do PPGCOM